Para o final de semana, fiz a reserva de uma suíte presidencial sênior no Ouro Minas Palace Hotel, onde comprometi-me a passar uma noite a companhia de Fernanda. Ela se animou com o convite, havia ouvido falar muito bem a respeito das instalações do local e gostaria de conhecer de perto. Assim como gostaria de compartilhar com ela toda esta experiência.
Disse a minha esposa que precisaria viajar durante este final de semana devido a um congresso que ocorreria em Brasília. Tampouco fez questão de saber, como fiz de me explicar. Não poderia culpá-la, estava tão profundamente envolto a minha angústia que roubava-lhe o brio, o gosto da vida.
Ao chegarmos no hotel, Fernanda e eu adentramos ao luxuoso quarto que havíamos reservado, seu interior era enorme e bem distribuído, o piso laminado em madeira e um tapete persa rubro enfeitava-lhe o centro. A parede da qual a cama alta estava escorada era pintada de dourado e havia cômodas antigas que atribuíam um charme rústico ao ambiente, com um abajur em cada. Próximo às grandes janelas, um protótipo de estar íntimo se fazia presente com duas poltronas cinzas e uma pequena mesa redonda no centro, decorada com um jarro de flores.
Deixamos nossas bagagens sobre o acolchoado do recamier, apreciamos a bela vista que a suíte proporcionava da Avenida Cristiano Machado e a mobília que atribuía um clima acolhedor a aquele recinto. Solicitamos um vinho pelo serviço que o hotel prestava, um Villa Matilde Cecubo, 2013, algo para celebrar nosso momento juntos.
Após entregarem nosso pedido, Fernanda retirou os calçados e se jogou a cama, seus braços e pernas deslizaram-se manhosamente pelo lençol alvadio, espreguiçando-se, reclinando vagarosamente seus dotes físicos sobre meu olhar que a devorava. Desfiz os botões da minha camisa social e servi as taças com o vinho. — Um brinde a nossa primeira noite oficial juntos. — Propus, entregando-lhe.
— A primeira de muitas! — Colocou-se de joelhos sobre o leito.
O tilintar das taças fora acompanhado por uma troca muda e intensa de olhares, fixos e expressivos, onde entregava-me a profundidade daquele castanho luminoso e abdicava de meus valores ou prudências. Desfrutamos de um gole lento da bebida e lacei sua cintura em um de meus braços.
— Me olhando dessa forma, você me tem muito fácil, sabia? — Disse-lhe.
— De que forma? — Indagou-me, enquanto colocava sua taça sobre a cômoda e ajeitava-se em meu abraço.
— Não sei explicar, é algo manhoso e provocante, longe de ser ingênuo e também longe de ser vulgar.
— Me parece bem peculiar. — Um sorriso singelo e malicioso iluminou seu rosto e escorregou suas mãos delicadas sobre meus ombros, afastando o pano da camisa em meu peito.
— Você não tem ideia do quanto. — Beijei-lhe.
Repousei minha taça ao lado da sua e a puxei contra mim, seus seios apertaram-se em meu peito desnudo e um lamurio baixo pôde ser ouvido antes de calá-la em um beijo terno, suas unhas percorreram minha pele e iam expondo-a, livrando-me do que restara de minha camisa, sutilmente. Apertava-lhe as laterais do corpo, subia vagarosamente minhas mãos pesadas por seu contorno, até alcançar a barra de seu top e passar a erguê-lo, sem pressa, em meio aos estalos apaixonados de nossos lábios.
Fernanda levantou seus braços e mirou-me os olhos, um sorriso devasso se desenhou no canto do rosto. Retirei-lhe o traje, com a mesma calmaria que havia começado, seus seios enrijecidos marcavam o sutiã branco, translúcido, com rendas discretas que lhe atribuíam um charme pueril e maldoso. Suas mãos correram ao cós da minha calça, desfizeram o único botão e desfivelaram meu cinto em uma destreza ímpar, agarrou-me a palma de uma delas e buscou novamente meus lábios, provocando-me com carícias leves e contínuas enquanto beijava-me com ternura.
Afaguei seus cabelos a região da nuca, entrelaçando-os em meus dedos e puxando-os timidamente conforme seus movimentos ganhavam ritmo. Minha respiração se acalorava, meu corpo reagia ao seu chamado, tombei-lhe a cabeça para o lado e percorri com beijos e chupões breves a tua pele quente, tomando-lhe o pescoço, o pé do ouvido, a maçã do rosto. Ergui sua saia curta, expondo-lhe no conjunto de lingerie que havia preparado para aquela noite, passei a tocá-la, delicadamente, invadindo suas vestimentas e moldando-a com a ponta dos dedos.
Seus toques foram aos poucos tornando-se descompassados e gemidos discretos e manhosos começaram a ser emanados contra minha pele, calei-a com o encontro bruto de nossos lábios, cobiçando-a, lhe invadindo com os dedos, domando-a sem escrúpulos a minha maneira.
Quando seus espasmos estavam mais fortes e seu rebolado copioso, seu beijo instigando-me em estalos altos, revelando o estado que se encontrava, fui obrigado a cessar abruptamente os meus estímulos. Recompus-me, desprendendo-me de si com uma feição cínica.
— Vem. — Ordenei-lhe.
A princípio, Fernanda fitou-me, um tanto quanto intrigada e ainda de joelhos a cama. Caminhei para as poltronas próximas a janela e escancarei a cortina de seda, promovendo ainda mais a imagem externa do hotel. Assentei-me e desfiz dos meus trajes, em um silêncio ordinário. Assisti a forma com que ajeitou seus cabelos por trás dos ombros e colocou-se de pé, caminhou em passos leves ao meu encontro até ser reprendida por mim. — Tire a roupa. — Disse-lhe, com um timbre de voz baixo e imponente.
Seus olhos correram a vidraça e logo voltaram-se a mim, parecia um pouco confusa, o que atribuía-lhe um traço ameninado. Levou suas mãos as costas e desfez-se do sutiã, revelando seus seios fartos e delicados. Deslizou suas mãos pequeninas pelo próprio ventre e inclinou-se morosamente, empinando seu quadril arrebitado, volumoso, enquanto despia-se devagar. — Assim? — Indagou-me.
Limitei-me a apenas chamá-la com os dedos e não houve nenhum tipo de resistência ao meu pedido. Acomodou-se em meu colo, colocando suas pernas ao lado das minhas coxas e repousou suas mãos em meu peito. Ajeitou-se vagarosamente, de forma que encaixássemos nossos corpos, mesmo em meio aquele espaço apertado e se curvou a minha direção. — O que mais você quer que eu faça? — Sussurrou ao meu ouvido. Segurei-lhe pelo quadril e puxei-a contra mim, forçando-me junto de si, o que arrancou-lhe um gemido longo e rouco. — Quero que me mostre o quão é minha. — Apertei suas curvas acentuadas. — Eu sou sua, amor. Toda sua. — Disse, enquanto acariciava meus cabelos. Apliquei um tapa forte que ecoou o ambiente, marcando-lhe a polpa. — Não quero que diga. — Respondi, beijando seu pescoço voluptuosamente. — Apenas mostre-me.
Aquilo foi o bastante para motivá-la, juntou suas pernas as minhas e repousou seus pés acima dos meus joelhos, friccionou seu quadril contra minha virilha e iniciou um rebolado lento, espaçado, deslizando seu corpo suavemente sobre o meu, num convite ingênuo a uma dança prazerosa, que ganhava intensidade e profundidade conforme se aguçava, seus suspiros tornavam-se evidentes, melódicos e estimulantes. Seus toques carregavam desejo e ternura, puxando-me a si. Passeei com minha língua a auréola de seus seios, umedecendo-os, enquanto explorava seu corpo nu sobre o brilho do luar.
— Amor. — Gemia copiosamente, atribuindo mais vigor a forma que se portava, agarrava-se em meus cabelos ou cravava suas unhas em minha carne para ganhar apoio, deleitava-se sem nenhum pudor, com os olhos cerrados e a cabeça inclinada para trás, ignorando seus próprios espasmos com uma maestria absurda. Meu prazer era completamente moldado a sua imagem, aos seus toques, aos seus gritos. Estava-me entorpecido por si, sentia-me vir gradualmente, inerente a minha vontade. — Para! — Pedi-lhe, segurando seus impulsos. — Levante!
Fernanda obedeceu prontamente, conduzi-lhe para próximo a vidraça e recostei-lhe sobre a superfície gélida, firmei meu corpo contra o seu de forma que conseguisse segurar seus cabelos louros e apertar seus seios contra a janela. Suas mãos espalmaram-se contra o vidro, empinou seu corpo vagarosamente ao meu pedido e fitou-me com um olhar sobre o ombro, mordendo o próprio lábio inferior.
Passei a investir-me contra ela, isento de qualquer remorso ou decência, as luzes da cidade irradiavam seu corpo escultural, revelavam-na, discretamente, compactuando com sua libertinagem, aflorando meus desejos mais íntimos, consumindo-nos de maneira sórdida, vulgar e explícita. Meus tapas deixavam seu quadril avermelhado, seu corpo era constantemente jogado contra meus estímulos, atribuindo mais profundidade e velocidade ao ato. Sua respiração ofegante embaçava o vidro e o volume de seu busto se esfregava a superfície fria.
Sentia a Fernanda se contrair, suas pernas passavam a falhar timidamente, cessei meus movimentos e a trouxe de volta a poltrona, assentando-a sobre esta. Ajoelhei-me diante de si e coloquei-me entre suas pernas torneadas, fitei-a com um olhar cobiçoso e retomei o seu prazer com a ponta da língua. O ímpeto do momento exigiu-me uma resposta rápida, bolinava-a com os dedos profundamente enquanto promovia seu orgasmo, suas pernas puxavam-me as costas e sua mão prendia-me entre elas, seu corpo se retorcia a poltrona em meio a gemidos histéricos e o êxtase corporal. Contraiu-se, suspendendo vagarosamente seu corpo contra meus estímulos quando sua voz lhe traiu, resgatou forças para segurar-me junto a si e desfalece-se detidamente.
— Nossa, amor. — Disse-me, com um sorriso perverso no rosto.
— Se ajeita. — Respondi de forma fria enquanto erguia-me diante de si.
Observou-me intrigada, mas não desmanchou sua feição imoral. Acomodou-se a poltrona de forma mais comportada, ajeitando-se mais próxima a mim. Envolvi seus cabelos louros em duas voltas completas, agarrei-o firme e conduzi seu rosto ao meu encontro. Deixei que passeasse com sua língua quente, tomasse-me em seus lábios, ensaiasse seus beijos e toques afáveis.
Suas mãos agarraram-me a cintura, entregava-me cada vez mais profundamente a si, minha respiração se ofegava e meu corpo vinha involuntariamente contra suas provocações. Cerrei os olhos, inclinei a cabeça para trás e deixei que um suspiro rouco e longo escapasse de mim, como algo que precisava ser liberto, notado. Ditava seus movimentos, adotando-lhe ritmo, domando seus instintos. Meu corpo efervescia, minha alma latejava por si, abdicava da razão e imergia-me ao próprio desejo. Meus espasmos se acentuavam, minha decência se dissipava. Segurei-a firme e sucumbi em seus lábios.
Após o êxtase daquele instante de deslumbramento, fui tomado pela necessidade de acender um cigarro. Vesti meus trajes baixos e alcei-me a janela, desfrutei de uma tragada longa e reflexiva enquanto observava a vida do lado de fora e era aninhado por uma brisa fria. Fernanda dirigiu-se ao banheiro com a boca crispada, lavou-se e retornou ao meu encontro com apenas uma toalha enrolada ao corpo.
— Está tudo bem? — Abraçou-me.
Embora a pergunta sempre esperasse uma resposta padrão, as palavras fugiam-me ao abordar o meu estado. Os altos e baixos do meu estado emocional eram ríspidos, volúveis. Apreciava sua companhia, como apreciava o aquecer da fumaça em meus pulmões, ou o amargor etílico que preenchia meu paladar nas noites solitárias. Eram lampejos que faziam-me sentir vivo, mas que sugavam-me cada vez mais abaixo.
— Estou bem, só descansando um pouco. — Menti. — Você me deixou cansado, garota.
Fernanda apertou-me em seus braços e beijou-me as costas, seu toque era delicado, afável, um tanto apaixonado. — Vou pegar as bebidas. — Disse-me, desvencilhou-se. Por mais realizado que estivesse com sua presença, ainda sentia-me incompleto, aprisionado a uma fissura em minha alma que me levava como em um redemoinho. Me apegava a aquilo que mantivesse-me a superfície, por mais banal e frágil que parecesse ser, mas estava esgotado de somente resistir, tentado a entregar-me, no fatídico destino da insensatez.
Soube, em meio a um trago ou outro, que meu sentimento por Fernanda era semelhante as aves de verão, como poderia ser diferente? Um acordo quase formal, medido pelas carências de um coração moribundo, amando-lhe somente quando me cabia, em minha tentativa vã de procrastinar aquilo que estava fadado. Não nego, quando ansiava-me por ela, era de forma profunda e verdadeira, mas também passageira e temerária. Algo precisava ser feito, mas ainda tínhamos uma noite juntos.